quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O jeito mais simples de rastrear o câncer

Começam a surgir no mundo exames que revelam a presença de tumores e apontam a evolução da doença a partir de uma única amostra de sangue.
A análise de uns poucos mililitros de sangue começa a fornecer respostas fundamentais para a detecção do câncer e o acompanhamento da evolução da doença. Batizados de biópsia líquida, os exames identificam a presença, na corrente sanguínea, de células tumorais e de fragmentos do DNA do tumor que são capazes de confirmar a instalação da enfermidade, de apontar se o tratamento está dando certo ou, ao contrário, se o tumor permanece forte o suficiente para se espalhar para outros órgãos.

Os testes estão sendo pesquisados em alguns dos principais centros de excelência no tratamento da doença do mundo. No Brasil, são investigados no Centro de Oncologia Molecular do Hospital Sírio-Libanês, no A.C. Camargo Cancer Center e na Universidade de São Paulo. Sua aplicação já se mostrou eficaz para detectar a presença de células de câncer de mama, pâncreas e de próstata. “O método é mais sensível do que os exames de imagem e do que o atual marcador tumoral PSA, usado para tumor de próstata”, diz a cientista Ludmilla Chinen, do Centro Internacional de Pesquisa e Ensino do A.C.Camargo Cancer Center, de São Paulo.

Na Universidade de São Paulo, pesquisadoras estudam opções para desenvolver biópsias líquidas para tumores cerebrais. Nesta etapa de estudo, porém, os testes estão sendo utilizados para detectar tumores em fase mais adiantada, confirmando diagnósticos anteriores.

Na Universidade de Bradford, no Reino Unido, está em desenvolvimento uma opção de diagnóstico diferente. O exame é capaz de detectar diversos tipos de câncer a partir da análise de alterações nos linfócitos (células de defesa do corpo) extraídos do sangue. Em laboratório, essas células são expostas à radiação ultravioleta para verificar sua sensibilidade às mudanças causadas pelos raios. Quanto mais sensíveis, maior a probabilidade de o indivíduo ter a doença. O exame já foi testado em 208 pacientes.

REAÇÃO

A cientista Anamaria, do Sírio-Libanês (SP), usa os testes para acompanhar como os pacientes respondem ao tratamento.
A outra grande aplicação das biópsias líquidas é para o monitoramento da evolução da doença. Isso é feito pela análise da concentração de células tumorais no sangue e de partes do DNA tumoral. No Hospital Sírio-Libanês, seis pacientes com câncer de mama estão em acompanhamento há pelo menos três anos. “Agora vamos ampliar o estudo para 20 pacientes com câncer de mama e outros 20 com tumores colo-retal”, diz a pesquisadora Anamaria Camargo, coordenadora do Centro de Oncologia Molecular da instituição. Segundo Ludmilla Chinen, do A. C. Camargo, os testes revelam se o tratamento escolhido está dando certo muito antes dos exames de imagem. A cientista analisa os resultados das biópsias líquidas feitas para monitoramento de quase 500 pacientes com tumores de colorretal, pâncreas, ovários e mama.

No Estados Unidos, instituições do porte do Memorial Sloan Kattering Center, MD Anderson Cancer Center e John Hopkins Hospital – três das principais referências mundiais no tratamento da doença – também apostam nas biópsias líquidas como a alternativa mais fácil de rastrear a doença. O patologista brasileiro Jorge Reis-Filho, do Memorial Sloan Kettering Hospital, por exemplo, atualmente avalia a existência de fragmentos de DNA tumoral em pacientes com câncer de mama, colorretal, intestino e pâncreas e estuda a presença de células doentes nas amostras de homens com câncer de próstata. Recentemente, ele comprovou que os testes são eficazes inclusive para predizer, oito meses antes, quais pacientes de câncer de mama sofrerão metástases. “São mulheres nas quais a quantidade de fragmentos de DNA tumoral no plasma não diminui como deveria após o tratamento. Ao contrário, continua aumentando”, diz.

Os especialistas acreditam que o uso dos testes para acompanhamento da doença deverá estar totalmente disponível dentro de no máximo três anos. Para diagnóstico da doença, principalmente em fase mais inicial, deve demorar um pouco mais. “Mas eles certamente serão bastante usados para identificar tumores de uma forma mais simples”, diz a cientista Ludmilla.

Por: Mônica Tarantino 
Fonte: Dikajob

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