quarta-feira, 2 de abril de 2014

A pílula viva da Amgen

Forte nos genéricos, laboratório americano agora aposta nos biomedicamentos para ampliar os negócios no País

Nos últimos anos, a indústria farmacêutica brasileira viveu dois extremos. O primeiro, de euforia, quando foram lançados os medicamentos genéricos, em 1999. Os remédios sem marca, como são conhecidos, e que não podem custar mais do que 65% do valor do produto de referência, tornaram-se uma gigantesca fonte de oportunidades para o setor, atraindo companhias de todas as partes do mundo e grandes investimentos. O segundo, ainda em curso, é um ciclo de incertezas no mercado de fármacos conhecidos como similares. Essas formulações não são classificadas como genéricos, mas poderão ser tratadas como tal, a contragosto dos fabricantes, com a mesma política de preços.  
Essa decisão está nas mãos da agência que regulamenta o setor, a Anvisa. 

Enquanto os fabricantes de medicamentos aguardam com apreensão os desdobramentos dessa questão, discutida em audiência pública recentemente, o laboratório americano Amgen corre por fora. A companhia californiana, com faturamento global de US$ 18,7 bilhões no ano passado, entrou no País ao adquirir a fabricante paulista de genéricos Bergamo, em 2011. No entanto, ela logo percebeu que a melhor receita para concorrer aqui seria investir em medicamentos de alta tecnologia, os chamados biomedicamentos. 

Trata-se de fórmulas que contêm células vivas em sua composição, como as novas insulinas, fabricadas com o que existe de mais avançado na indústria farmacêutica mundial. Os biomedicamentos podem custar muitas vezes mais do que um medicamento tradicional, com margens de lucro exponencialmente superiores. Não por acaso, daqui a dois anos a Amgen começará a trazer medicamentos inéditos para o tratamento de doenças como vários tipos de câncer, enxaqueca e colesterol. Após essa estreia, o laboratório fará outros três lançamentos por ano no mercado brasileiro. 

“Vamos trazer de fora produtos inovadores, mas também investir no desenvolvimento de fórmulas em nossos laboratórios no País”, afirma o presidente da Amgen do Brasil, Eduardo Santos. Além da alta rentabilidade dos biomedicamentos, a Amgen aposta nas compras bilionárias do governo para ampliar sua receita. Atualmente, os biomedicamentos representam 5% de tudo que o Ministério da Saúde compra, em volume, para distribuir gratuitamente em postos de saúde e hospitais públicos. Em cifras, porém, essa pequena fatia representa 43% dos gastos do governo com medicamentos, numa conta final de R$ 5 bilhões. 

Até 2017, segundo a consultoria Frost&Sullivan, os biomedicamentos responderão por um faturamento acima de R$ 14,4 bilhões, enquanto o mercado geral farmacêutico alcançará a marca de R$ 120 bilhões. A Amgen, fundada em 1980, está enfrentando um período de quebra de patentes de vários biomedicamentos em todo o mundo. Em 2012, o medicamento para tratar reumatismo Enbrel, que rendeu US$ 5,6 bilhões em receita em três anos de vendas, teve a patente quebrada em diversos mercados, com exceção dos Estados Unidos, onde o prazo foi estendido para 2028. No ano que vem, será a vez de o Neulasta, para o tratamento de leucemia, ter sua fórmula aberta para a produção e, outras companhias europeias e americanas.

“A Amgen terá de vender mais barato, perderá na margem, mas poderá continuar ganhando em volume”, diz Rita Ragazzi, analista da Frost&Sullivan. “Por isso, é fundamental para as estratégias da companhia estar em mercados em franco crescimento, como o Brasil.” A ofensiva da empresa nos biomedicamentos não significa que irá baixar a guarda na seara dos genéricos. A bem-sucedida experiência da companhia com os medicamentos sem marcas, com a compra da Bergamo, motivou-a a adquirir um outro laboratório na Turquia, em 2012. 

“Crescemos entre 20% e 25% ao ano desde 2011 no Brasil graças aos genéricos”, diz Santos. A ordem é continuar ganhando mercado. Com a marca Bergamo, serão lançados oito medicamentos por ano, a partir de 2016. Nos últimos três anos, a Amgen reformulou todo o plano de lançamentos da Bergamo. Os sete medicamentos dermatológicos que estavam programados para serem lançados deram lugar a 15 produtos oncológicos. “Estamos reinventando nosso negócio no Brasil, alinhando nossa operação ao DNA da Amgen no mundo”, diz o presidente.

Fonte: Isto É Dinheiro 

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