quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cientistas trabalham para construir corpo humano em um chip


Famosa por ter feito crescer uma orelha humana nas costas de um rato em 1995, a bioengenheira americana Linda Griffith acredita que a chave para entender o desenvolvimento de doenças e a criação de medicamentos eficazes e seguros está na possibilidade de simular, em laboratório, o funcionamento do corpo humano. A pesquisadora lidera uma equipe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que desenvolve o projeto “corpo humano num chip”.

A meta é desenvolver uma plataforma de tecidos humanos interligando, in vitro, dez órgãos dos sistemas circulatório, endócrino, gastrointestinal, imunológico, nervoso, respiratório, reprodutivo, urinário, músculo-esquelético e tegumentar.

Os pesquisadores pretendem construir um “chip” onde possam simular como o corpo das pessoas funciona, como doenças se desenvolvem e que sirva para testar novos medicamentos de forma segura e eficaz.

Quando estiver pronto, o “chip do corpo humano” permitirá acelerar pesquisas de novos tratamentos.

“O que a maioria das pessoas faz é testar em animais se o remédio é seguro e se funciona. Mas animais não replicam o ser humano. Muitas vezes drogas falham por razões que não sabemos dizer, porque elas não estavam sendo testadas em sistemas humanos” explica Linda, que esteve em São Paulo participando do ‘Challenge of Inovation’, conferência promovida pelo MIT, Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras, Senai e CNPQ. “Nosso objetivo é saber se os medicamentos funcionam e se são seguros antes que cheguem às pessoas. É preciso fazer um trabalho melhor quando a pergunta é “será que funcionará em pessoas? É seguro para elas?” 

ORÇAMENTO DE US$ 32 MILHÕES 

Para desenvolver o projeto ao longo de cinco anos, os pesquisadores do MIT terão à disposição US$ 32 milhões, graças ao investimento do Departamento de Defesa e do Instituto Nacional de Saúde do governo americano.

Os trabalhos começaram em julho de 2012, a partir de dois órgãos que já haviam sido “construídos num chip” pelos pesquisadores: um fígado e um pulmão. No fígado construído em microescala em um chip de silício, os pesquisadores usaram pequenos canais para imitar vasos sanguíneos.

O “chip” do fígado faz com que células-tronco desse órgão se comportem como ocorreria no corpo humano, processando nutrientes e vitaminas como um fígado real.

Segundo Linda, em breve os cientistas envolvidos no projeto construirão um útero, um intestino e o sistema imunológico no “chip”.

“Um desafio enorme é conectar os órgãos e medir seu funcionamento. Como medir as coisas, tirar amostras, fazer drogas circularem pelo sistema e irem para os lugares que elas têm que ir. É muita engenharia” admitiu.

MODELO PARA DOENÇAS 

Segundo ela, como nem todos os órgãos estarão no “chip”, a função dos que não forem criados será compensada com programas de computadores.

Para a pesquisadora do MIT, o projeto é mais relevante do que tentar criar órgãos artificialmente para que eles sejam transplantados para pacientes.

“Por que não imprimir um fígado? Nós precisamos de fígado para transplante. Mas se você é um paciente, você prefere ter um fígado feito em laboratório ou ter a cura da doença antes de ficar muito doente?” questionou. — Eu sou uma engenheira.

Os cirurgiões pensam que eu deveria estar fazendo um fígado para que ele pudesse fazer o transplante, mas eu digo que não. Eu penso à frente.

De acordo com Linda, o projeto “corpo humano no chip” também pode ajudar a entender melhor sobre doenças femininas.

Diretora do Centro de Pesquisa de Ginecopatologias do MIT, ela acredita que, a partir dos modelos e interações construídas na pesquisa, será possível entender se a endometriose tem relação com inflamações em outros órgãos.

Fonte: O Globo